jeudi 9 avril 2009

A Viagem de Ibn Ammâr de São Brás a Silves


Texte en langue portugaise destiné à mes étudiants de Master à Mertola. Tous les autres textes sont en français ou en arabe.



Ibn Ammâr nasceu em 1031/ 441 em Xannabûs ( São Brás de Alportel), o mesmo ano em que o califado Omíada do al-Andalus foi definitivamente abolido e que marca o início dos reinos independentes das Taifas (1031-1095). Nasceu de uma família muito pobre, mas a sua inteligência e persistência levaram-no ao topo da hierarquia social. A sua ambição desmedida fê-lo cair mais baixo da “pequenez”: preso e leiloado, antes de ser assassinado pelo seu melhor amigo!
A aventura de Ibn Ammâr começou quando abandonou São Brás, a sua terra natal, muito jovem e foi para a capital regional, Xilb ( Silves), logo depois de ter acabado a memorização do Alcorão na escola corânica da sua pequena cidade. Estudou na grande mesquita de Xilb, antes de rumar para Córdova, a capital intelectual do al-Andalus. Aí ouviu cursos de direito, de gramática e de língua árabe, mas ficou apaixonado pela poesia. Na sua época, este ramo literário era o mais apreciado pelos jovens da aristocracia urbana, que versejavam por mera diversão. Mas Ibn ´Ammâr, pobre como era, procurou através dela o seu sustento. Assim viajou por várias cidades do al-Andalus em busca de mecenas para os seus panegíricos, os quais raramente lhe saciavam a fome, apesar da sua qualidade.
Em 1053, o destino levou-o até à corte do rei de Sevilha, al-Mu`tadid Ibn `Abbâd, que apreciou os seus dotes poéticos e não hesitou em recompensá-lo pelo justo valor. Passou, desde essa altura, a fazer parte da elite da corte. Conheceu o príncipe al-Mu`tamid a quem acompanhou anos mais tarde na governação de Silves, sendo afastado deste pelo pai por o considerar uma má influência.
Em 1069, após uma longa estadia em Saragoça, Ibn ´Ammâr é chamado pelo seu amigo, al – Mu ´tamid , rei então de Sevilha. Foi nomeado governador de Silves por poucos anos, antes de voltar para junto do seu amigo. Na qualidade de grande vizir, teve um papel importante na governação do reino: era ele quem chefiava as tropas, quer para novas conquistas, quer na aplicação de estratégias de defesa. Traiu o seu amigo, rei de Sevilha, levando este a assassiná-lo não o desculpando pelas suas atitudes de rebeldia, mesmo utilizando para tal emocionantes versos.A sua poesia abrangeu o Ocidente e o Oriente da Península, tendo chegado até à Síria e ao Iraque através das melodias dos pastores de camelos e da voz dos declamadores.
Foi considerado um poeta incompatível e um sedutor invencível. Dizem que quando escrevia um “panegírico” as suas palavras possuíam o poder de limpar toda e qualquer mancha e quando recitava versos de escárnio, até os surdos os ouviam; e quando narrava em verso o amor, particularmente o dos “efebos” imberbes, desprendia-se deles um encanto desconhecido de eloquência.
Cresceu numa época em que a poesia era abundante e o seu caminho foi o mais repleto dos caminhos em dinheiro e em prosperidade. Durante algum tempo obedeceu a esta arte e depois renegou-a por odiar a dádiva, quando procedida dum pedido o qual a transforma em astúcia e fraude.

Abû Bakr foi uma das presas do infortúnio e das folhas caídas da árvore de uma felicidade mirrada, alguém que sofreu privações e ultrapassou as durezas do tempo. Disto provém a sua reflexão demonstrando que este mundo consiste em avanços e recuos. Num obscuro dia viu-se obrigado a procurar abrigo em Xilb, junto a Ibn Ammâr. Este recitou-lhe algumas poesias escritas na época em que ele maltratava o destino. O homem cochichou algo ao ouvido de seu servo que logo saiu e voltou com um saco cheio de cevada e disse: “ toma isto, pois entre os pecadores és tu o mais digno”. Ibn Ammâr interrogou-se sobre a melhor maneira de aproveitar esta dádiva e quando atinge uma posição de prestígio, isto é, quando foi nomeado governador de Silves pelo califa Almutâmide Alalá, foi procurar o seu antigo benfeitor, a quem devolveu o mesmo “bornal” que o mercador lhe enviara antes, mas cheio de moedas de prata, dizendo-lhe: “ –Se o tivesses enchido de trigo, tê-lo-ia mandado encher agora de ouro”.
A Xilb foi a cidade escolhida por Ibn Ammâr talvez por ter sido a cidade do Gharb que mais beneficiou da civilização islâmica: de uma pequena urbe nos períodos romano e visigodo, a partir do século X passa a uma cidade cheia de dinâmica, com potencialidades económicas.
O trânsito medieval islâmico no Sul do Gharb assentava nos transportes a dorso-de-besta, por animais ferrados, uma vez que a rede principal utilizava ainda as velhas estradas romanas e os novos caminhos abertos fora dos novos perímetros suburbanos tinham um desenvolvimento essencialmente orgânico.
Perante esta rede geopolítica e em condições de paz civil e militar, a viagem de Ibn Ammãr teria sido em montada de São Brás a Silves e obedeceu certamente a alguns critérios, tais como: o tentar encontrar o percurso que exigisse menos esforço, com mais segurança, utilizando um certo aprovisionamento devido à distância em tempo e espaço entre Xannabûs e Xilb.
A viabilidade da jornada seria calculada em cerca de 54km, uma vez que estudos realizados o confirmam, tendo por base também a sua juventude o que permitia maior resistência ao esforço da viagem. A sua montada, quase sempre em muar, seria provavelmente o seu bem mais precioso, por ser de origem humilde, o que permitia um cuidado mais especial com o bem-estar do animal, poupando-o a todos os esforços desnecessários, à custa de uma maior duração da viagem.
De Abdallah Khawli/ Maria Alice Fernandes/ Luís Fraga da Silva
Associação Campo Arqueológico de Tavira 2006


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